Quem diria que a música eletrônica iria se popularizar de modo a envolver milhões de cifras em um mercado que continua promissor?
A verdade é que a e-music, hoje, movimenta um número incalculável – seja pela dificuldade em agregar os elementos, pela imaterialidade ou pela novidade - de dinheiro nos seus amplos setores, que vão desde a organização de festas e festivais, som, iluminação, decoração, alimentação, limpeza, banheiros, até estúdios equipados, cursos de djs, selos e gravadoras especializadas, roupas e acessórios, além de um número cada vez mais expressivo de adeptos. “A cena psytrance brasileira é enorme e atrai adoradores de todo o mundo. Cada vez mais artistas do Brasil entram para o casting de gravadoras internacionais”, afirma o produtor de eventos Fernando de Oliveira. O surgimento de academias, cursos, e até mesmo pós-graduações em música eletrônica, delatam o quanto esse mercado cresceu e o quanto ele ainda promete.
UNIÃO DE NÚCLEOS
Apesar da ampliação do mercado de música eletrônica como um todo e do psytrance ainda estar em alta, o gênero já sente que as coisas não andam tão bem como na época do seu auge. Mas, como esse boom foi recente, mesmo sem todo aquele furor o mercado de psytrance continua aquecido. No entanto, alguns efeitos já são sentidos pelo público. A quantidade de festas open air diminuíram este ano. Pelo menos as pequenas. As pvts estão mais escassas, e só estão sobrevivendo grandes organizações. O lema é se profissionalizar para ter chance no mercado. “Algumas organizações de psytrance estão se fundindo para conseguir manter seus eventos fortes”, afirma Nanji, vocalista e guitarrista da banda eletrônica Noise Reaction. “Grandes organizações que antes disputavam o mercado passam a trabalhar juntas em seus eventos principais”.
O melhor exemplo é a união da No Limits com a It’s Magic para organizar a Tribe, uma das maiores festas open air no território brasileiro. Com isso os maiores eventos do país (Tribe, XXXperience, Orbital, Groove Attack e o Chemical Music) passaram a ser organizadas pela mesma produtora.“Por um lado, essa união tem o poder de aumentar a qualidade das festas. Por outro, os núcleos menores posicionam-se em desvantagem, pois não conseguem chamar os artistas mais caros do mercado, nem armar as maiores estruturas”, afirma Raone Noise, dj, guitarrista, baixista e componente da banda. “Nos interiores dos estados ainda existem bastantes raves de psy, mas já diminuíram de uns tempos pra cá. Ainda assim eu acho que é algo que não vai morrer por enquanto”, profetiza.
Para o dj e empresário Rica Amaral, dono da XXXperience, organizada pela No Limits, não existe um monopólio, apenas a profissionalização dos núcleos. “Isso se torna necessário quando o tamanho da cena e a parte burocrática aumentam”, afirma. E seu parceiro, dj Feio, conclui: “O território brasileiro é muito grande, exigindo uma logística bem elaborada para a realização das festas”. A união dos núcleos favorece também a logística...
EXPANSÃO DOS NEGÓCIOS
Em busca de sobrevivência no mercado e de lucro, os núcleos hoje procuram dominar o máximo de áreas possível. Quem antes organizava festas hoje também vende ingressos online, disponibiliza músicas para download, faz compilações, organiza viagens. Isso é uma tendência geral.
“Por trás das grandes organizações existe competência e muito trabalho para chegar aonde chegaram”, afirma Cassiano Mendes, sócio da Wired Music e do SoundShop. “Sempre haverá espaço para novas organizações que partam desse princípio, completa. Cassiano administra gravadoras, como a Wired Music e a Lokik Records, a loja virtual SoundShop, uma empresa de design, e algumas outras coisas dentro do segmento eletrônico. “Acho válido essa diversificação se o trabalho por trás for sério”, afirma.
GRAVADORAS E LANÇAMENTOS
Com a popularização da internet em banda larga, a pirataria e os downloads gratuitos se tornaram os grandes vilões das gravadoras, que tiveram que se concentrar em outras formas de divulgação da música - que não só a venda em CD - para poder continuar competindo no mercado. Por outro lado, os artistas independentes conseguem divulgar e fazer com que seu trabalho alcance outras regiões e que inúmeras pessoas reconheçam seu trabalho.
Para Carolina Duarte, da gravadora e produtora do Rio de Janeiro Max Pop, o lançamento de CDs ainda é economicamente viável, mas é necessário explorar outros recursos. “Além de agenciar nossos artistas, nós compramos músicas de selos internacionais e disponibilizamos para download em nosso site. Trazemos o artista internacional para o Brasil, e levamos os nossos para fora”, explica Carolina.Em 1999 Rica Amaral já se aventurava por esse mercado de CDs e lançava a primeira compilação XXXperience. E a exemplo do que nos contou Carolina, continuamos a assistir lançamentos de compilações exclusivas de psytrance. A Wired Music, por exemplo, já lançou duas este ano. Sendo uma coletânea de âmbito internacional.
Não é necessário enumerar os muitos lançamentos desse ano. Basta dar uma voltinha pelo SoundShop, o maior site de vendas de CDs e ingressos online relacionados à música eletrônica aqui no Brasil, e ver a quantidade de novidades que chegam diariamente.No entanto, é necessário continuar investindo em todas as apostas. Para Cassiano Mendes, o caminho é investir pesado na divulgação: “As vendas de CDs caíram drasticamente de 2003, 2004 para cá, e, falando como sócio de uma gravadora, os valores não movimentam as mesmas quantias de anos atrás. Acho que aliando todas as formas de se ganhar junto com artista, seja com CDs, apresentações em festas, música digital e outros caminhos, ainda é um mercado que podemos continuar a trabalhar e investir”.
PANELAS
Não é novidade para ninguém que existem panelas dentro dos núcleos de festas e gravadoras. Será que a união dos núcleos aumenta o protecionismo, ou expande os conhecimentos? De que forma isso ajuda ou atrapalha na movimentação da cena?Para o DJ e empresário Márcio TPS, do Rio Grande do Sul, essa política é desleal com o mercado: “Quem perde é a evolução da cultura eletrônica, o público privado de ter acesso a diversos profissionais espalhados pelo Brasil. Existem boas escolas e bons profissionais, mas acredito que a ética deixa a desejar. Surgiram muitos núcleos sem conceito, com referências visando apenas o lado financeiro sem se preocupar com a qualidade sonora”.
Gabi.
segunda-feira, 23 de junho de 2008
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2 comentários:
E não é só isso não. Eu por exemplo, que tenho um evento de pequeno porte em Mina Gerais, sofro com grandes organizações que chegam e roubam todo o público.
O caminho para o psytrance está se fechando cada vez mais.
É triste.
Para quem é competente sempre vai haver espaço, em qualquer área da vida.
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