Segue o depoimento do Rodrigo Piccolotto, da PsyArena, que inclusive propõe algumas alternativas viáveis para a regulamentação das raves:
"Devidos as inúmeras ocorrências existentes nas festas de música eletrônica principalmente nos últimos 2 anos, a dificuldade da prefeitura liberar o alvará aumentou consideravelmente.
Hoje, não existe um motivo real e oficial para se negar o alvará. O que existe é "receio do orgão público" (entenda-se que este receio é totalmente embasado) de acontecer algo de errado nessas festas (drogas, roubos, brigas etc) e consequentemente acarretar problemas aos dirigentes legais e consequentemente a própria prefeitura da cidade.
Isso cresceu devido às inúmeras festas (se é que podemos chamar de festa) mal feitas por irresponsáveis (alguns denominados organizadores de raves) que acabaram consequentemente denigrindo a cena eletrônica e complicando aqueles que buscam realizar eventos de forma segura, eficaz e dentro dos critérios estabelecidos por uma prefeitura. Tivemos exemplos de festas com pouquíssimos seguranças, sem equipe médica, sem uma quantidade de banheiros e muitos vezes todos sujos etc...
Desde 2006, 2007 alguns deputados e vereadores começaram a tomar partido contra e outros a favor dos eventos de música eletrônica. Com o crescimento da cena negativa das festas (algumas mortes acidentais, vídeos com jovens tendo overdose e tráfico de drogas), mais difícil conseguir alvará, pois o número de deputadores e vereadores contra esse tipo de festa, aumentava.
Depois principalmente de uma morte acidental em uma festa esse ano (2008), foi bastante discutido e que está em andamento, um projeto-lei nº 1.388, onde "tenta" regulamentar esse tipo de evento eletrônico.
Isso ao meu ver, é um passo importante, pois "entende-se querer regulamentar a realização desse tipo de evento", porém o que se vê é um grande desconhecimento do que são essas festas, sua cultura, seu objetivo, enfim a finalidade que uma festa deseja trazer ao público que a frequenta.
As raves precisam ser regulamentadas sim, mas mantendo suas origens.
As raves são festas em locais abertos, ao ar livre, presando pela harmonia entre natureza e ser humano (algo cada vez menor nos tempos atuais devida ao crescimento tecnológico e consequentemente mudança nos valores). São locais amplos, que por obrigação da organização do evento, devem ser preservados.
Além disso são festas de longa duração, geralmente entre 20h e 30h, pois há várias vertentes na música eletrônica (trance, full on, progressive, psy, electro, house, minimal, tecno etc) o que faz o público ser diferenciado de acordo com o horário e estilo de música que queira assistir.
A regulamentação em trâmite por sua vez, não deseja regulamentar uma festa e sim enquadrá-la nos moldes das festas existentes (como uma boate em local fechado que funciona normalmente). Porém se torna inviável (financeiramente) realizar um evento de 10h com a infra-estrutura de qualidade que um evento de música eletrônica abrange, ou seja, a regulamentação das festas força mais sua extinção do que regulamentar eventos de música eletrônica. Não há atualmente, políticos com "mente aberta" para entender a cena eletrônica e em conjunto com os organizadores, formular regras que definam segurança, conforto e responsabilidade social.
Abaixo deixo aqui minha sugestão para viabilizar a realização das festas, algo já tentando por mim em várias prefeituras, mas até o momento sem sucesso.
Prefeitura define todos os documentos necessários, baseando pela quantidade estimada de público + horas de festa, como por exemplo:
- contrato equipe médica: ambulância UTI e/ou móvel + médicos + enfermeiros;
- contrato dos bombeiros e engenheiros que analisam e autorizam a realização no local;
- contrato com equipe de segurança;
- contrato do sistema de som + palco;
- contrato de sanitários químicos;
- ofícios entregues a guarda civil, municipal
- ofícios entregues a polícia civil, militar
- ofícios entregues ao Denarc
- ofícios entregues aos hospitais da região e etc
Demais documentos necessários, são definidos pela própria prefeitura. Ela inclusive pode orientar o organizador nesse sentido.
Após entregue todos os documentos, o organizador protocola todos os documentos obtidos e os deixa na prefeitura. Dentro de "xx" dias, retorna na mesma e retira o alvará.
Se a organização do evento contrata a infra-estrutura necessária, libera-se o local pelo tempo solicitado, permitindo a realização do evento.
Ou seja, a prefeitura diz o que precisa ter de documentos/contratos e conforme informação disponibilizada pela organização do evento sobre previsão de público, horário de início e término do evento.
O principal neste quesito é existir uma análise coerente do que realmente é necessário ter de infra-estrutura e documentação para a realização do evento (em termos de quantidade). Além disso, a polícia pode sempre e a qualquer momento ter acesso ao local (como já ocorre) extinguindo/inibindo assim aqueles que prejudicam a cena eletrônica, os seja, traficantes, ladrões e usuários de droga.
Hoje, quase 100% das festas realizadas cooperam com a prefeitura local através da doação de alimentos, brinquedos ou roupas. Outro ponto importante é que uma festa eletrônica gera receita para a economia da cidade e região, através da contratação de centenas de funcionários (portaria, limpeza etc), serviços (médico, segurança, artistas, bombeiro etc), turismo (hotéis, pousadas etc), materiais recicláveis e logicamente divulgando a própria cidade e cultura predominante neste momento no país."
quinta-feira, 23 de abril de 2009
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Um comentário:
Oi, é o Cau do Sempre na Vibe!
Sensacional a matéria e o complemento dela! Concordo 100% com as idéias dadas pelo Rodrigo para haver a regulamentação verdadeira das nossas festas...
Parabéns pelo blog, muito bom, hein?!
Abs
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