1-) Primeiro, claro, a pergunta que não quer calar: que motivos o levaram a Londres, nesse momento em que o Trance parece estar despontando novamente no Brasil??
Em primeiro lugar, todo o meu trabalho como produtor e grande parte do meu trabalho como DJ estão centrados no mercado europeu: meu publisher se encontra na Escócia, o meu agente (para bookings na Europa) se encontra em Londres, os selos por onde lanço as minhas faixas, e grande parte do meu networking, se encontram na Europa.
Enfim, tenho muitas coisas acontecendo por aqui e a distância (10.000 Km) começou a pesar muito: esse ano perdi a oportunidade de me apresentar em Ibiza, na Judgement Sundays, e na Goodgreef do Eddie Halliwell , pois não tinha como preencher cada viajem com outras gigs, logo não faria sentido gastar dinheiro em passagens intercontinentais, sem flight share. Tenho muitos projetos em andamento por aqui e a distância passou a ser um grande obstáculo.
O trance está, de fato, despontando no Brasil graças a grandes iniciativas como a do Energy BR (www.energybr.net - maior núcleo do gênero na América do Sul), do Club Nox (em Recife) e a da Melody (agência de DJs e produtora de eventos de Porto Alegre). Temos grandes talentos e profissionais construindo uma cena trance nacional... mas ainda somos um movimento underground. Ainda não temos noites-fixas (semanais), não temos um público significativamente grande (que peça pelos nossos DJs) e ainda existe um longo caminho para que o trance seja “incluido” no cotidiano da cena eletrônica brasileira. Basta olhar para as organizações mais populares da cena (como 3Plus, MKT Pro, Skol Beats, etc.)... cadê o trance nacional?
Afinal bookar Armin van Buuren, Tiësto ou Paul van Dyk pruma festa no Brasil, não é algo que vá agregar valor à cena NACIONAL. É óbvio que esses DJs não são bookados porque tocam trance, e sim por serem os mais populares do mundo.
Enfim, ainda temos um longo caminho a ser percorrido para que a cena trance brasileira, seja incluida no circuito eletrônico nacional... e acredito que ainda estou fazendo a minha parte nisso tudo, mesmo morando em Londres.
2-) Em que essa mudança vai acarretar na sua carreira?
Como disse, agora estou mais próximo de todo o trabalho que comecei em 2006, quando lancei minha primeira faixa (“Tran-4”, que virou hit em Londres, na época). É como morar perto do escritório, sabe? Você tem mais controle sobre o que está acontecendo. O que movimenta o mundo é o conceito de “ação e reação”, por isso é importante estar presente onde as coisas estão acontecendo, para poder interagir com elas.
Mas ainda é cedo pra fazer previsões, afinal eu acabei de chegar e tudo pode acontecer! :)
3-) Você acha que o mercado para quem trabalha com o Trance está melhor aqui no país, ou ainda falta muito?
Infelizmente ainda falta muito, não só para quem trabalha com trance. Vejo muitos artistas/produtores de eventos/organizadores/etc (de todas as cenas), que trabalham com conceito, não terem o espaço merecido.
No começo dessa década, começaram a aparecer monopólios dentro da cena nacional... monopólios que decidiram elitizar a cena, restringindo o público e dizimando a concorrência. O resultado é que hoje o público é muito mais restrito (pois nem todos podem se dar o luxo de pagar 80 R$ pra entrar num club ou festa, né?), e temos poucas empresas com o seu “lugar ao Sol” garantido. Pouco público + pouca concorrência é uma equação que resulta em perda de qualidade. Pra que bookar um bom DJ nacional e mostrar algo novo, se basta colocar o “amigo do amigo do promoter” para tocar?
Precisamos acabar com o elitismo na cena, e dar a oportunidade de ouvir boa música para quem quer ouvir. Se isso acontecer, a cena ganha mais público e existirá mais espaço para os nossos profissionais trabalharem.
4-) Como você vê a tragetória desse estilo no nosso país, comparando com a Europa?
Vamos começar pelo passado, por volta de 1996: o trance era uma das vertentes mais queridas nas primeiras raves do país. Camilo Rocha, Dmitri, Jason Bralli, entre outros foram os primeiros a tocar trance no Brasil. Nessa época o trance ainda estava na sua fase mais underground.
Aí chegou o BOOM do trance na Europa, graças a personalidades como o Ferry Corsten , que levaram o gênero ao mainstream. Nessa época o trance se tornou a vertente mais popular da música eletrônica no mundo... mas atenção: popular é uma coisa, comercial é outra.
Porém, o comercial foi o caminho que o trance tomou no Brasil: aproveitando a deixa européia, gravadoras nacionais começaram a licenciar faixas de grupos de euro dance como Lasgo, Ian van Dahl, DJ Sammy, etc, vendendo-as ao mercado brasileiro, erroneamente, como TRANCE. Foi nessa época, por volta do ano 2000, que o trance morreu no Brasil. Os poucos DJs do gênero abandonaram o barco e a responsabilidade de manter o trance vivo caiu em nossas mãos. Porém todos nós (do Energy BR) estávamos apenas começando. Ainda não tinhamos uma certa reputação na cena, que nos desse a chance de mostrar o nosso trabalho.
Foi bem dificil o começo, ainda lembro que sofriamos para trazer 100 pessoas em nossas festas. Mas continuamos batendo nessa tecla, e em 2006 levamos a nossa festa (State Of Trance) para o super-club Anzu, onde conseguimos reunir mais de 2000 pessoas, sem precisar bookar DJs internacionais.
O futuro...
Acho que o futuro será a mistura, e isso vale para todas as vertentes.
Essa é uma realidade aqui na Europa: DJs estão tendo que misturar diversas vertentes no mesmo set e/ou produções, para agradar o público. Basta olhar para o sucesso do Sander van Doorn , que é um dos melhores exemplos no quesito mistura.
Muitos DJs de trance brasileiros têm a habilidade de misturar vertentes no set... pois foi assim que conseguimos promover o trance, quando ninguém sabia o que era: misturando o nosso som com algo que as pessoas já conheciam.
Por isso acho que o futuro do trance, especialmente no Brasil, será o de se tornar algo eclético e versátil, para agradar a muitos.
5-) Por que você acha que o Psytrance recebeu esse nome? (algumas pessoas chegam a dizer que o Psytrance não tem nenhum elemento do verdadeiro Trance, você concorda com isso?)
O psy trance se chama assim porque ele tem origens no trance.
O trance foi batizado com esse nome, em 1988, graças ao projeto “Dance 2 Trance”, dos alemães DJ Dag e Jam El Mar (esse último também foi parte do histórico duo “Jam & Spoon”). A idéia era criar faixas eletrônicas hipnóticas que fizessem o ouvinte entrar em transe... e o legal de tudo isso, é que não existiam regras, templates ou qualquer tipo de diretriz a serem seguidos para produzir trance.
É claro que, com o tempo, o trance foi evoluindo, se adaptando em cenas diferentes. Enquanto na Europa as pessoas escutavam o som de Age Of Love, Humate, Jam & Spoon, Marmion, Oliver Lieb, etc, na Índia, em Goa, escutavam um som maluco, tocado por hippies através de fitas de rolo, mas que também tinha o mesmo propósito do trance da Europa: fazer as pessoas entrarem em transe.
Logicamente não demorou muito para ele ser batizado de goa trance.
Esses dois gêneros cresceram, evoluiram e se multiplicaram em centenas de sub-vertentes... e, em 20 anos, é normal que eles tenham se afastado um pouco um do outro, né.
O goa trance seguiu o seu caminho e hoje existe psy trance, full on, progressive (psy), morning, dark, etc, etc. Acho que muitos psyeros vão concordar comigo quando eu digo que o psy de hoje tem muito pouco a ver com o goa de 20 anos atrás.
Enquanto isso, o trance (da Europa) também seguiu o seu caminho, e hoje temos uplifting, tech trance, hard trance, hard dance, progressive (trance), etc. Aqui também posso afirmar que o trance de hoje tem muito pouco a ver com o trance daquela época.
Enfim, aí está o porque, dois gêneros como o psy trance e o trance europeu, têm nomes tão parecidos, mesmo não tendo nada ver um com o outro. Mesma origem, caminhos diferentes.
6-) Quais são os seus planos e seus empreendimentos aí na Europa?
Bom, tenho algumas coisas em andamento (no estúdio): em breve vou lançar duas faixas pela Armada (selo do Armin van Buuren) e outra no selo japonês Hellhouse (do DJ Yoji Biomehanika), tenho trabalhado em alguns remixes e tenho trabalhado bastante em novas sonoridades, que estou introduzindo aos poucos nas pistas. A idéia é usar isso como ponto de partida, tanto para fazer o trabalho com o meu publisher andar (23rd Precint), como também para fazer mais festas aparecerem. Me apresentei recentemente na Ministry Of Sound, tive um ótimo feedback e os organizadores demostraram interesse em me trazer de volta, em breve.
Também estou devendo visitas nos estúdios de vários produtores, onde poderei trabalhar em parcerias.
O plano é o de me inserir no circuito para eu poder criar meus próprios projetos, ter minha própria noite ou residência, montar o meu novo estúdio, trabalhar mais próximo dos selos e outros artistas... Enfim, como disse antes, acabei de chegar e ainda tenho que marcar muitas reuniões (ou símples encontros com outros produtores) para poder prever o que vai acontecer.
7-) Algo que seria impossível de realizar por auqi, e que aí voê terá mais gás?
Não acredito no termo “impossível”, mas acredito que certas coisas acontecem com mais naturalidade, no lugar certo e na hora certa.
Eu gostaria muito de ter uma residência, acho que o verdadeiro trabalho de um DJ é aquele de se compromer a fazer o público dançar toda a semana, dando uma continuidade ao seu trabalho. É muito fácil ser um DJ convidado, é só “bombar” a pista com o seu som e, se não funcionar, recorrer aos hits.
Nunca consegui realizar isso no Brasil... o meu agente (para bookings no Brasil), o Marco da Clunk DJs, sempre me falou do quanto é dificil bookar DJs que tocam “acelerado” (acima de 130 BPM) nos clubs brasileiros.
O trance, no Brasil, ainda está recrutando e dotrinando o seu público, que cresceu muito de 2002 pra cá. Porém ainda precisamos de mais pessoas que acompanhem e sejam fans dos DJs nacionais, que saiam de casa para vê-los tocarem, que sejam capazes de colocá-los no mesmo patamar dos internacionais.
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
terça-feira, 16 de setembro de 2008
Entrevista com Roger Lyra
1-) Você acha que o mercado para quem trabalha com o Trance está melhor aqui no país, ou ainda falta muito? Como é o espaço para esse estilo nas pistas brasileiras?
Sem dúvida houve uma evolução nítida no espaço para o Trance na cena Brasileira. A iniciativa de núcleos locais criando seus próprios eventos, incentivando o intercambio de dj´s de estados diferentes e o interesse dos principais club´s do pais no estilo, foram definitivos para essa evolução, mas acho que é apenas a ponta do iceberg. Tem muito mais a crescer no futuro.
2-) Como você vê a evolução da cena Trance no Brasil? (sendo que ela já esteve em alta, quase desapareceu e hoje, ao que me parece, está retornando novamente - Você concorda com essa afirmação?)
Definitivamente não concordo. Acho que no passado não houve de fato um boom pois de fato, ainda não existia uma cena trance. Em 99/00 alguns dj´s brasileiros apostaram no estilo e incluiram faixas de trance em seus set´s, mas acho que isso nao foi o suficiente para ser considerado o boom inicial do estilo no país. No mundo, realmente o ano 2000 marcou com força e concretizou o trance como o estilo mais popular na cena internacional. Vários nomes começaram a realizar tours internacionais espalhando ainda mais o estilomas houve um delay. No Brasil, demorou 2 a 3 anos até realmente o som chegar com mais força aqui e ter efetivamente uma cena embrionária.
3-) E aí no Rio, como está a evolução do Trance?
O rio tem uma característica muito particular, que é a receptividade em conhecer sons novos. Aqui e muito comum reunir vários estilos diferentes e uma mesma noite. Com a grande variedade de sonoridades que o trance oferece, é fácil se adaptar à proposta do evento e seguir diferentes linhas dentro do estilo. No início em 02/03 os beats mais acelerados do Hard-Trance eram muito bem aceitos nos eventos open-air, mas com o tempo, o tech-trance ganhou espaço. Atualmente, a linha de progressive trance é a que tem maior receptividade do público carioca e até mesmo algumas das faixas com vocais foram parar nas fm´s e set´s de dj´s que fazem um som comerical em boites. A passagem dos grandes nomes do estilo pelo Rio também ajudou muito a despertar o interesse do público em conhecer o Trance.
4-) Se hoje o Trance no Brasil está mais em alta do que os últimos tempos, você considera que a eleição seguida de Djs de Trance pela Dj Mag tem algo a ver com isso?
Acho que para o público em geral que não um olho mais crítico para avaliar tecnicamente os DJ´s ou até mesmo boa parte dos promotores de evento que estão mais interessados em um bom gancho de marketing do que efetivamente em música boa, pode ser que haja uma influência sim, mas não a ponto de ser um fator decisivo na crescente popularidade do estilo no país. Essas listas são apenas uma referencia, mas não devem ser levadas tão a sério.
5-) O Psytrance, por sua vez, está em certa decadência. É possível que o Trance tenha o seu boom novamente?
Acredito que os estilos tem sempre um ciclo de popularidade e momentos de altos e baixos. Depende muito da qualidade de novos produtores em se auto-recriar para manter uma sonoridade atual e inovadora, mas nem sempre isso acontece. Se o som não evolui, é uma questao de tempo até tornar-se enjoativo e perder parte do seu público, e por isso acho que é importante pesquisar os novos nomes que surgem. Hoje em dia, na minha opnião as melhores faixas que tenho ouvido são de nomes que estão fora do top 100 da DJ MAG, mas musicalmente, estão a anos luz dos big names. A entrada de estilos de BPM mais baixo nas raves, acaba contribuindo para um redirecionamento de parte do público que acaba migrando para outros estilos.
6-) Sem entrar em questão de gosto pessoal, e sem virar mais uma discussão chata sobre o que é melhor e o que é pior, mas por que você acha que o Psytrance recebeu esse nome, sendo que - muitas pessoas afirmam que - em nada esse estilo tem de Trance? O que você acha disso?
Eu sempre achei uma grande perda de tempo essa polêmica criada sobre este assunto. Não posso mentir que a alguns anos atras eu ficava bastante frustrado quando ao dizer que tocava trance, a maior parte do público assossiava diretamente ao Psy, mas isso ja passou. Com o tempo, ficou claro pra mim que o uso de rótulos é um limitador perigoso para o DJ e passei a não me preocupar mais com o que estava tocando, focando apenas em musicas que considero boas, sem rótulos. Acho que cada DJ tem que tocar o som que acredita, seja lá qual for.
7-) Você conhece djs que migraram do Psytrance para o Trance, ou vice e versa?
Muita gente não sabe, mas grandes nomes da cena psy como o Du Serena já tocaram trance no início da carreira. Até mesmo nomes do underground techno como o Renato Bastos, já tocaram hard-trance e hard-house. Acho normal que ao longo do tempo, o interesse do DJ siga para sonoridades diferentes e na maioria das vezes, isso é muito saudável pois dá um gás novo. Alguns nomes novos que começaram tocando trance aqui no rio acabaram mudando para outros estilos por motivos diferentes, mas acho que para se ter um resultado de um trabalho difícil como DJ é fundamental ter perseverança e paciência, e pouca gente tem isso.
8-) Quando você começou a tocar e desde o início você curtia Trance? Que estilo de Trance você mais toca?
Eu comecei tocando rock como The Clash e Simple Minds em 1987 e passei por tudo quanto é estilo ao longo de 20 anos de carreira. Antes de ser DJ "disso ou daquilo", eu sou DJ e minha maior felicidade é ver todo mundo dançando e se divertindo na pista, o resto é detalhe. Comecei a me interessar por música eletrônica no meio dos anos 90, já com quase 10 anos de carreira. Frequentava festas alternativas no Rio como a Bitch e Val-Demente pois gostava de ouvir coisas diferentes. Em 99 estive em londres e foi o meu primeiro contato direto com o Trance, mas inicialmente me interessei mais pelo Hard-House, seguindo depois para o Hard-Trance, ambos com sonoridade bem agressivas. Com o tempo fui conhecendo as outras sub-vertentes do estilo e abri um grande leque, sem me prender. Atualmente, vou muito além do Trance, trazendo para o meu case faixas de outros estilos que de alguma forma tem a minha cara e que vão encaixar em algum momento no meu set, principalmente em club´s pequenos, onde o BPM mais baixo tem um resultado melhor. Melodia, vocais e um bom groove são ítens fundamentais na minha escolha de um track.
9-) Você comanda o conceituado Transtronic na Transamérica do Rio. Você acha que o programa sobreviveria se você mandasse somente Trance para os ouvintes? Qual a essência desse programa para você e o que não pode entrar de jeito nenhum na programação?
Estou envolvido com programas de rádio desde 95, sendo que estou a frente do Transtronic desde 2002, e posso dizer que nunca tive um resultado de audiência tão gratificante como hoje. Os meus set´s na rádio acompanharam a minha evolução nas pistas, e a pelo menos 2 anos eu toco pelo menos 1 módulo do programa de outros estilos, mas o Trance continua presente. Ao abrir este leque, consegui agregar um público muito maior, interessado em música eletrônica de qualidade, sem preocupãção com rótulos. Não vejo limitações para o programa que sempre recebe Dj´s convidados de vários estilos, como Armin Van Buuren e Tocadisco.
10-) Quais são os seus planos e seus empreendimentos futuros?
Neste mês estou finalizando a tour de lançamento do CD "Evolution By Roger Lyra" que já passou por 7 estados e nos proximos 15 dias vai aportar em Vitória, Porto Alegre e Curitiba. Ainda este ano chega as lojas o meu DVD, gravado no Vivo Rio, casa de show aqui no Rio onde toquei junto com o FatBoy Slim e registrei as 3 horas do meu set. Desde março, tenho dedicado minhas madrugadas durante a semana ao meu home-studio, produzindo algumas faixas que já estão com lançamento agendado para os próximos meses, algumas pelo selo holandês Fektive e outras pelo brazuka Lo Kik. Na NRG Music & Management onde atudo como Diretor Artístico, vamos continuar investindo em parcerias para lançar Cd´s e DVD´s de nomes como Armin Van Buuren e Paul Van Dyk pelo meu selo, e na divisão de eventos, estamos na reta final para o Lançamento do festival Creamfields no rio, que terá sua terceira edição dia 14 de Novembro. Fora isso, passo todo tempo disponível em casa curtindo a família e principalmente minha filha Brenda, que acabou de completar 8 meses e mal vê o Pai...
Sem dúvida houve uma evolução nítida no espaço para o Trance na cena Brasileira. A iniciativa de núcleos locais criando seus próprios eventos, incentivando o intercambio de dj´s de estados diferentes e o interesse dos principais club´s do pais no estilo, foram definitivos para essa evolução, mas acho que é apenas a ponta do iceberg. Tem muito mais a crescer no futuro.
2-) Como você vê a evolução da cena Trance no Brasil? (sendo que ela já esteve em alta, quase desapareceu e hoje, ao que me parece, está retornando novamente - Você concorda com essa afirmação?)
Definitivamente não concordo. Acho que no passado não houve de fato um boom pois de fato, ainda não existia uma cena trance. Em 99/00 alguns dj´s brasileiros apostaram no estilo e incluiram faixas de trance em seus set´s, mas acho que isso nao foi o suficiente para ser considerado o boom inicial do estilo no país. No mundo, realmente o ano 2000 marcou com força e concretizou o trance como o estilo mais popular na cena internacional. Vários nomes começaram a realizar tours internacionais espalhando ainda mais o estilomas houve um delay. No Brasil, demorou 2 a 3 anos até realmente o som chegar com mais força aqui e ter efetivamente uma cena embrionária.
3-) E aí no Rio, como está a evolução do Trance?
O rio tem uma característica muito particular, que é a receptividade em conhecer sons novos. Aqui e muito comum reunir vários estilos diferentes e uma mesma noite. Com a grande variedade de sonoridades que o trance oferece, é fácil se adaptar à proposta do evento e seguir diferentes linhas dentro do estilo. No início em 02/03 os beats mais acelerados do Hard-Trance eram muito bem aceitos nos eventos open-air, mas com o tempo, o tech-trance ganhou espaço. Atualmente, a linha de progressive trance é a que tem maior receptividade do público carioca e até mesmo algumas das faixas com vocais foram parar nas fm´s e set´s de dj´s que fazem um som comerical em boites. A passagem dos grandes nomes do estilo pelo Rio também ajudou muito a despertar o interesse do público em conhecer o Trance.
4-) Se hoje o Trance no Brasil está mais em alta do que os últimos tempos, você considera que a eleição seguida de Djs de Trance pela Dj Mag tem algo a ver com isso?
Acho que para o público em geral que não um olho mais crítico para avaliar tecnicamente os DJ´s ou até mesmo boa parte dos promotores de evento que estão mais interessados em um bom gancho de marketing do que efetivamente em música boa, pode ser que haja uma influência sim, mas não a ponto de ser um fator decisivo na crescente popularidade do estilo no país. Essas listas são apenas uma referencia, mas não devem ser levadas tão a sério.
5-) O Psytrance, por sua vez, está em certa decadência. É possível que o Trance tenha o seu boom novamente?
Acredito que os estilos tem sempre um ciclo de popularidade e momentos de altos e baixos. Depende muito da qualidade de novos produtores em se auto-recriar para manter uma sonoridade atual e inovadora, mas nem sempre isso acontece. Se o som não evolui, é uma questao de tempo até tornar-se enjoativo e perder parte do seu público, e por isso acho que é importante pesquisar os novos nomes que surgem. Hoje em dia, na minha opnião as melhores faixas que tenho ouvido são de nomes que estão fora do top 100 da DJ MAG, mas musicalmente, estão a anos luz dos big names. A entrada de estilos de BPM mais baixo nas raves, acaba contribuindo para um redirecionamento de parte do público que acaba migrando para outros estilos.
6-) Sem entrar em questão de gosto pessoal, e sem virar mais uma discussão chata sobre o que é melhor e o que é pior, mas por que você acha que o Psytrance recebeu esse nome, sendo que - muitas pessoas afirmam que - em nada esse estilo tem de Trance? O que você acha disso?
Eu sempre achei uma grande perda de tempo essa polêmica criada sobre este assunto. Não posso mentir que a alguns anos atras eu ficava bastante frustrado quando ao dizer que tocava trance, a maior parte do público assossiava diretamente ao Psy, mas isso ja passou. Com o tempo, ficou claro pra mim que o uso de rótulos é um limitador perigoso para o DJ e passei a não me preocupar mais com o que estava tocando, focando apenas em musicas que considero boas, sem rótulos. Acho que cada DJ tem que tocar o som que acredita, seja lá qual for.
7-) Você conhece djs que migraram do Psytrance para o Trance, ou vice e versa?
Muita gente não sabe, mas grandes nomes da cena psy como o Du Serena já tocaram trance no início da carreira. Até mesmo nomes do underground techno como o Renato Bastos, já tocaram hard-trance e hard-house. Acho normal que ao longo do tempo, o interesse do DJ siga para sonoridades diferentes e na maioria das vezes, isso é muito saudável pois dá um gás novo. Alguns nomes novos que começaram tocando trance aqui no rio acabaram mudando para outros estilos por motivos diferentes, mas acho que para se ter um resultado de um trabalho difícil como DJ é fundamental ter perseverança e paciência, e pouca gente tem isso.
8-) Quando você começou a tocar e desde o início você curtia Trance? Que estilo de Trance você mais toca?
Eu comecei tocando rock como The Clash e Simple Minds em 1987 e passei por tudo quanto é estilo ao longo de 20 anos de carreira. Antes de ser DJ "disso ou daquilo", eu sou DJ e minha maior felicidade é ver todo mundo dançando e se divertindo na pista, o resto é detalhe. Comecei a me interessar por música eletrônica no meio dos anos 90, já com quase 10 anos de carreira. Frequentava festas alternativas no Rio como a Bitch e Val-Demente pois gostava de ouvir coisas diferentes. Em 99 estive em londres e foi o meu primeiro contato direto com o Trance, mas inicialmente me interessei mais pelo Hard-House, seguindo depois para o Hard-Trance, ambos com sonoridade bem agressivas. Com o tempo fui conhecendo as outras sub-vertentes do estilo e abri um grande leque, sem me prender. Atualmente, vou muito além do Trance, trazendo para o meu case faixas de outros estilos que de alguma forma tem a minha cara e que vão encaixar em algum momento no meu set, principalmente em club´s pequenos, onde o BPM mais baixo tem um resultado melhor. Melodia, vocais e um bom groove são ítens fundamentais na minha escolha de um track.
9-) Você comanda o conceituado Transtronic na Transamérica do Rio. Você acha que o programa sobreviveria se você mandasse somente Trance para os ouvintes? Qual a essência desse programa para você e o que não pode entrar de jeito nenhum na programação?
Estou envolvido com programas de rádio desde 95, sendo que estou a frente do Transtronic desde 2002, e posso dizer que nunca tive um resultado de audiência tão gratificante como hoje. Os meus set´s na rádio acompanharam a minha evolução nas pistas, e a pelo menos 2 anos eu toco pelo menos 1 módulo do programa de outros estilos, mas o Trance continua presente. Ao abrir este leque, consegui agregar um público muito maior, interessado em música eletrônica de qualidade, sem preocupãção com rótulos. Não vejo limitações para o programa que sempre recebe Dj´s convidados de vários estilos, como Armin Van Buuren e Tocadisco.
10-) Quais são os seus planos e seus empreendimentos futuros?
Neste mês estou finalizando a tour de lançamento do CD "Evolution By Roger Lyra" que já passou por 7 estados e nos proximos 15 dias vai aportar em Vitória, Porto Alegre e Curitiba. Ainda este ano chega as lojas o meu DVD, gravado no Vivo Rio, casa de show aqui no Rio onde toquei junto com o FatBoy Slim e registrei as 3 horas do meu set. Desde março, tenho dedicado minhas madrugadas durante a semana ao meu home-studio, produzindo algumas faixas que já estão com lançamento agendado para os próximos meses, algumas pelo selo holandês Fektive e outras pelo brazuka Lo Kik. Na NRG Music & Management onde atudo como Diretor Artístico, vamos continuar investindo em parcerias para lançar Cd´s e DVD´s de nomes como Armin Van Buuren e Paul Van Dyk pelo meu selo, e na divisão de eventos, estamos na reta final para o Lançamento do festival Creamfields no rio, que terá sua terceira edição dia 14 de Novembro. Fora isso, passo todo tempo disponível em casa curtindo a família e principalmente minha filha Brenda, que acabou de completar 8 meses e mal vê o Pai...
sexta-feira, 5 de setembro de 2008
Entrevista com Pilpo Fadini
Pilpo Fadini é referência internacional do trance brasileiro. Apresenta o programa quinzenal Trance Feeling Sessions, para o mundo inteiro. Começou a descotear em 2002, e apesar de amar o trance, partiu, no começo, para uma linha de house e dance, retornando ao seu estilo preferido sempre ao final de cada set.
Confira:
01. Em suas apresentações, você sempre tocou muito House e Dance e há pouco tempo embarcou no Trance, que me parece que é o estilo que mais te agrada. Como foi essa transição? E por que só agora? Conte um pouco sobre essa paixão.
R: Eu sempre amei o trance, desde os primeiros clubs que eu freqüentei, em 1999, quando ouvia Ronaldo Gasparian e Zé Pedro mandando este estilo na cabine da THE POOL, aliás, o melhor club brasileiro de todos os tempos na minha opinião. Nesta época o trance rolava muito nas rádios e nas compilações brasileiras, como: Metro Tech, Na Balada JP, etc. Mas minha paixão era em relação aos timbres do trance, que até me fascinam. É feeling puro, o grande diferencial do trance é que ele mexe com o sentimento das pessoas!
Quando eu comecei a discotecar, em 2002, a “popularização” do trance já estava no final e o que mais tínhamos na maioria dos clubs e rádios era a house/ dance music. Eu acabei seguindo essa linha, já que eu estava começando a atuar como DJ e era bem difícil já chegar com um estilo que estava na contramão da cena. Porém, sempre no final do meu set (naquela época, era normal os DJs residentes fazerem sets de 04h/05h) eu mandava cerca de 01h de trance pra quem ainda estava vivo na pista, mandando sons do tipo Seven Cities, Nothing But You e Melt To The Ocean (que hoje são clássicos idolatrados do trance).
02. Como é hoje o espaço do Trance nas pistas brasileiras?
R: Hoje temos festas e projetos bem fortes aqui e que são levadas para quase todos os cantos do país, como: a State Of Trance (SP), Trance Republic (RS) e, mais recentemente, a representação brasileira para o projeto do Tiësto contra a AIDS no mundo: Dance4Life que já passou por SP, RJ e BA.
Com este crescimento da cena nacional, têm surgido também mais festas e noites em clubs trazendo muitos gringos pra cá. Em 2007 e 2008 esta safra gringa no Brasil está mais forte do que nunca, sendo que praticamente temos um gringo tocando aqui a cada 15 dias.
E isso sem contar as diversas festas de nome internacional que vêm investindo na divulgação de seu nome por aqui também, como: Gatecrasher, DJ Mag, Creamfields, Godskitchen, etc.
03. Muitas pessoas chegam a comparar o verdadeiro Trance com os timbres do House. Você, não é por acaso, toca os dois estilos. Até que ponto vai essa semelhança, aos ouvidos do público, e aos olhares dos profissionais?
R: Na verdade eu não toco House, eu toco trance e um pouco (± 20% de um set) de progressive house. Há muitas semelhanças sim entre os 2 estilos, principalmente pelo fato de hoje termos muitos trances sendo produzidos entre 130 e 134 bpm’s (sendo que as bpm’s do house variam entre 128 e 132) e muitos produtores dos 2 estilos serem mais versáteis, buscando em suas produções mesclarem um pouco de cada estilo da e-music, criando seu estilo próprio. Quando eu ouço Sander van Doorn, por exemplo, não sei dizer se ele produz trance, minimal, house ou techno. Sei que é uma mistura muito forte, cujo resultado não poderia ser diferente: Muito groove, feeling, levadas dançantes, viagens e sucesso total na pista em que é tocado, que é o principal. Isso também é excelente para toda a cena eletrônica, desde os DJs e produtores até o público.
04. Dizem até que as batidas do Trance são mais parecidas com o House do que com o Psytrance. E você é um exemplo de que do House para o Trance é um pulo. Já não ocorre o mesmo com o Psy. O que você afirmaria sobre isso?
R: Tanto no house como no trance, o produtor ou DJ sente que há um sentimento na música, e acho que é por isso que ambos os estilos tendem a serem eternos.
Se houve um pulo do trance para o psy, ele foi mais ou menos igual ao de um jogador de futebol para um de xadrez. A não ser as versões de psy que foram criadas a partir de trances, como: As The Rush Comes e Silence, entre outras, não vejo muita ligação entre os 2 estilos.
Nem gosto muito de entrar na questão da “essência” ou origem do psy porque cada pessoa tem sua história sobre isso. É como discutir futebol, política ou religião: cada um sempre defenderá seu ponto de vista e nunca chegaremos a conclusão nenhuma.
05. Por que você acha que o Psytrance recebeu esse nome, se muitas vezes suas batidas nada levam do verdadeiro Trance?
R: O que dizem por aí é que o psy (repare que eu escrevo psy e não psytrance) é uma evolução do Goa trance. Existem diversas histórias que dizem que o Goa existe desde as décadas de 70/80 e que aos poucos foi-se acrescentando elementos mais psicodélicos nas músicas até naturalmente mudar-se o nome para psy! Eu sinceramente não tenho interesse em saber de onde surgiu o psy ou a veracidade dessas histórias que eu ouço, pois é um estilo que não agrada meus seletos ouvidos.
06. Você conhece DJs que migraram do Psytrance para o Trance, ou vice e versa?
R: Não conheço DJ que tenha migrado entre os estilos, mas conheço alguns DJs com um bom nome na cena psy que admiram trance mas optam por tocar psy porque “tem mais mercado”, dá mais grana, tem mais festas e tudo mais. Eu sinto que não há paixão nesse estilo tão falado atualmente.
07. Você acha que o Trance no Brasil está em ascendência?
R: Sem nenhuma dúvida o trance está em ascendência no Brasil por N motivos, mas principalmente de 2006 para cá, quando as produções de nossos brazucas Fabio Stein, Danilo Ercole, Danny Oliveira, DJ Jack e Superti começaram a ter destaque e suporte nas mãos de gringos renomados em seus DJ sets ou radioshows, como: Armin van Buuren, Tiësto, Judge Jules, Paul van Dyk, Sander van Doorn, etc.
08. O público da DJ Mag elegeu em anos seguidos DJs de trance em primeiro lugar. Isso refletiu no Brasil?
R: E vai continuar elegendo DJs de trance no topo por um bom tempo ainda, se Deus quiser. Refletiu no Brasil apenas no fato de que os organizadores utilizam esse dado (Festa com DJ nº tal do ranking DJ MAG) para promover a festa, mas para o crescimento da nossa cena não tem muito reflexo esse ranking, apesar de ser saudável e bem cultural discutí-lo e comentá-lo ano ano!
09. O "Trance Feeling Sessions (TFS)" é um show quinzenal, no qual você mostra sons de Trance para o mundo todo. Os brasileiros estão ouvindo esse programa em que proporção comparado com o resto do mundo e com outras vertentes do Trance?
R: Esse show é meu xodó (rs). O Trance Feeling Sessions fez 1 ano em Junho/08 e tenho muitos feedbacks positivos e audiência dos meus fãs e brazucas e geral sim. Em média, 600 pessoas no mundo ouvem-no online na hora que ele é executado na Afterhours.Fm (AH.FM - Canadá, a cada 15 dias, às 19h das sextas-feiras), sendo que a webradio ainda o reprisa em diversos outros dias e horários aleatórios. Pelo que eu acompanho em fóruns de discussão, somente 5% a 10% desses ouvintes são brasileiros.
Comparando-o com outros shows na mesma webradio em que ele é executado, o TFS tem uma audiência quase igual a shows de top DJs gringos, como: DJ Shah, Sean Tyas, Aly & Fila, Markus Schulz, Marcus Schossow, que têm em média 750 ouvintes.
O mais interessante disso tudo é saber que a AH.FM tem apenas 2 anos de vida e que já aparece na cena mundial de maneira bem forte e lá estou eu e mais dois representantes brasileiros: Vitor Moya e Supermassive, representando a nossa pátria: o trance!
Confira:
01. Em suas apresentações, você sempre tocou muito House e Dance e há pouco tempo embarcou no Trance, que me parece que é o estilo que mais te agrada. Como foi essa transição? E por que só agora? Conte um pouco sobre essa paixão.
R: Eu sempre amei o trance, desde os primeiros clubs que eu freqüentei, em 1999, quando ouvia Ronaldo Gasparian e Zé Pedro mandando este estilo na cabine da THE POOL, aliás, o melhor club brasileiro de todos os tempos na minha opinião. Nesta época o trance rolava muito nas rádios e nas compilações brasileiras, como: Metro Tech, Na Balada JP, etc. Mas minha paixão era em relação aos timbres do trance, que até me fascinam. É feeling puro, o grande diferencial do trance é que ele mexe com o sentimento das pessoas!
Quando eu comecei a discotecar, em 2002, a “popularização” do trance já estava no final e o que mais tínhamos na maioria dos clubs e rádios era a house/ dance music. Eu acabei seguindo essa linha, já que eu estava começando a atuar como DJ e era bem difícil já chegar com um estilo que estava na contramão da cena. Porém, sempre no final do meu set (naquela época, era normal os DJs residentes fazerem sets de 04h/05h) eu mandava cerca de 01h de trance pra quem ainda estava vivo na pista, mandando sons do tipo Seven Cities, Nothing But You e Melt To The Ocean (que hoje são clássicos idolatrados do trance).
02. Como é hoje o espaço do Trance nas pistas brasileiras?
R: Hoje temos festas e projetos bem fortes aqui e que são levadas para quase todos os cantos do país, como: a State Of Trance (SP), Trance Republic (RS) e, mais recentemente, a representação brasileira para o projeto do Tiësto contra a AIDS no mundo: Dance4Life que já passou por SP, RJ e BA.
Com este crescimento da cena nacional, têm surgido também mais festas e noites em clubs trazendo muitos gringos pra cá. Em 2007 e 2008 esta safra gringa no Brasil está mais forte do que nunca, sendo que praticamente temos um gringo tocando aqui a cada 15 dias.
E isso sem contar as diversas festas de nome internacional que vêm investindo na divulgação de seu nome por aqui também, como: Gatecrasher, DJ Mag, Creamfields, Godskitchen, etc.
03. Muitas pessoas chegam a comparar o verdadeiro Trance com os timbres do House. Você, não é por acaso, toca os dois estilos. Até que ponto vai essa semelhança, aos ouvidos do público, e aos olhares dos profissionais?
R: Na verdade eu não toco House, eu toco trance e um pouco (± 20% de um set) de progressive house. Há muitas semelhanças sim entre os 2 estilos, principalmente pelo fato de hoje termos muitos trances sendo produzidos entre 130 e 134 bpm’s (sendo que as bpm’s do house variam entre 128 e 132) e muitos produtores dos 2 estilos serem mais versáteis, buscando em suas produções mesclarem um pouco de cada estilo da e-music, criando seu estilo próprio. Quando eu ouço Sander van Doorn, por exemplo, não sei dizer se ele produz trance, minimal, house ou techno. Sei que é uma mistura muito forte, cujo resultado não poderia ser diferente: Muito groove, feeling, levadas dançantes, viagens e sucesso total na pista em que é tocado, que é o principal. Isso também é excelente para toda a cena eletrônica, desde os DJs e produtores até o público.
04. Dizem até que as batidas do Trance são mais parecidas com o House do que com o Psytrance. E você é um exemplo de que do House para o Trance é um pulo. Já não ocorre o mesmo com o Psy. O que você afirmaria sobre isso?
R: Tanto no house como no trance, o produtor ou DJ sente que há um sentimento na música, e acho que é por isso que ambos os estilos tendem a serem eternos.
Se houve um pulo do trance para o psy, ele foi mais ou menos igual ao de um jogador de futebol para um de xadrez. A não ser as versões de psy que foram criadas a partir de trances, como: As The Rush Comes e Silence, entre outras, não vejo muita ligação entre os 2 estilos.
Nem gosto muito de entrar na questão da “essência” ou origem do psy porque cada pessoa tem sua história sobre isso. É como discutir futebol, política ou religião: cada um sempre defenderá seu ponto de vista e nunca chegaremos a conclusão nenhuma.
05. Por que você acha que o Psytrance recebeu esse nome, se muitas vezes suas batidas nada levam do verdadeiro Trance?
R: O que dizem por aí é que o psy (repare que eu escrevo psy e não psytrance) é uma evolução do Goa trance. Existem diversas histórias que dizem que o Goa existe desde as décadas de 70/80 e que aos poucos foi-se acrescentando elementos mais psicodélicos nas músicas até naturalmente mudar-se o nome para psy! Eu sinceramente não tenho interesse em saber de onde surgiu o psy ou a veracidade dessas histórias que eu ouço, pois é um estilo que não agrada meus seletos ouvidos.
06. Você conhece DJs que migraram do Psytrance para o Trance, ou vice e versa?
R: Não conheço DJ que tenha migrado entre os estilos, mas conheço alguns DJs com um bom nome na cena psy que admiram trance mas optam por tocar psy porque “tem mais mercado”, dá mais grana, tem mais festas e tudo mais. Eu sinto que não há paixão nesse estilo tão falado atualmente.
07. Você acha que o Trance no Brasil está em ascendência?
R: Sem nenhuma dúvida o trance está em ascendência no Brasil por N motivos, mas principalmente de 2006 para cá, quando as produções de nossos brazucas Fabio Stein, Danilo Ercole, Danny Oliveira, DJ Jack e Superti começaram a ter destaque e suporte nas mãos de gringos renomados em seus DJ sets ou radioshows, como: Armin van Buuren, Tiësto, Judge Jules, Paul van Dyk, Sander van Doorn, etc.
08. O público da DJ Mag elegeu em anos seguidos DJs de trance em primeiro lugar. Isso refletiu no Brasil?
R: E vai continuar elegendo DJs de trance no topo por um bom tempo ainda, se Deus quiser. Refletiu no Brasil apenas no fato de que os organizadores utilizam esse dado (Festa com DJ nº tal do ranking DJ MAG) para promover a festa, mas para o crescimento da nossa cena não tem muito reflexo esse ranking, apesar de ser saudável e bem cultural discutí-lo e comentá-lo ano ano!
09. O "Trance Feeling Sessions (TFS)" é um show quinzenal, no qual você mostra sons de Trance para o mundo todo. Os brasileiros estão ouvindo esse programa em que proporção comparado com o resto do mundo e com outras vertentes do Trance?
R: Esse show é meu xodó (rs). O Trance Feeling Sessions fez 1 ano em Junho/08 e tenho muitos feedbacks positivos e audiência dos meus fãs e brazucas e geral sim. Em média, 600 pessoas no mundo ouvem-no online na hora que ele é executado na Afterhours.Fm (AH.FM - Canadá, a cada 15 dias, às 19h das sextas-feiras), sendo que a webradio ainda o reprisa em diversos outros dias e horários aleatórios. Pelo que eu acompanho em fóruns de discussão, somente 5% a 10% desses ouvintes são brasileiros.
Comparando-o com outros shows na mesma webradio em que ele é executado, o TFS tem uma audiência quase igual a shows de top DJs gringos, como: DJ Shah, Sean Tyas, Aly & Fila, Markus Schulz, Marcus Schossow, que têm em média 750 ouvintes.
O mais interessante disso tudo é saber que a AH.FM tem apenas 2 anos de vida e que já aparece na cena mundial de maneira bem forte e lá estou eu e mais dois representantes brasileiros: Vitor Moya e Supermassive, representando a nossa pátria: o trance!
terça-feira, 2 de setembro de 2008
Entrevista com Dj Jack
DJ Jack é dono da festa State of Trance. Toca basicamente progressive e tech-trance, acelerando em alguns momentos do set com um uplifting. Já tocou muito hard trance no passado, mas, segundo ele, o estilo não se renovou, caindo na fórmula, sendo deixado de lado por muitos produtores e até mesmo pela cena. Também é o idealizador do site Energy BR.
01 - Qual estilo de Trance você mais gosta de tocar, em cada ocasião? Por quais você ja passou?
Bom, atualmente eu toco basicamente progressive e tech trance, mas também gosto de acelerar em alguns momentos do set dependendo do lugar onde estou tocando, aí um uplifting cai muito bem. No passado meus sets eram bem mais pesados, tocava praticamente hard trance, mas como o estilo não se renovou e caiu na fórmula, ele acabou sendo deixado de lado por muitos produtores e até mesmo pela cena, porque já não passava mais a mesma emoção.
02 - Como você vê a evolução da cena Trance no Brasil? Hoje ele está em ascendência por aqui? Que fatores contribuem para isso?
O trance “europeu” vem crescendo muito no Brasil, principalmente nos últimos 3 anos, que foi quando começaram a ter enxurradas de DJs gringos vindo tocar por aqui. E isso foi um fator muito importante também para a cena local, pois começou a crescer mais o interesse pelo público de pesquisar e ver que por aqui também temos ótimos DJs e produtores.
03 - Muitas pessoas dizem que o Psytrance deveria mudar de nome por não agregar os elementos do verdadeiro Trance. Você concorda?
O psy no que se refere a “full on” eu concordo plenamente, porque não tem nada a ver há muito tempo. O que foi muito relacionado ao trance mesmo era o goa, que não se produz tanto como antigamente, mas que ainda tem algumas coisas saindo.
04 - Como as vertentes estão sobrevivendo hoje?
Bom, o trance “europeu” como muitos chamam, pode ser dividido praticamente 4 vertentes: progressive, uplifting, tech e hard.
A meu ver os que mais se destacam atualmente são os 3 primeiros, mas principalmente o progressive e o tech, que são os estilos mais ricos e diversificados em termos de produção.
05 - Você concorda com a afirmação de que o Trance puro se parece com o House, mais do que com qualquer outra vertente?
Nossa, nada ver essas afirmações que dizem por aí!Primeiro que trance “puro” não existe mais se você for levar ao pé da letra. O trance, assim como qualquer estilo musical, passou por muitas evoluções até chegar ao que é hoje, rolaram muitos crossovers de estilos, então não dá pra dizer “ahhh isso é trance puro”, isso não existe. O que temos são estilos que chegam próximos do que era feito lá no começo dos anos 90, como o progressive.
06 - Que tipos de trabalho um Dj de Trance tem que fazer hoje para sobreviver no mercado, (tendo em vista que o próprio Psytrance já se encontra em decadência e seus produtores estão tendo que procurar outras bandas)?
Hoje em dia, em qualquer mercado, o DJ é muito mais do que uma pessoa que só precisa estar lá pra mixar na cabine. O DJ precisa ter conhecimento musical, produzir suas próprias faixas, divulgar e muito bem o seu trabalho, correr atrás, etc. O mercado está cheio de “DJs”, então pra você se destacar, você precisar ter sempre algo há mais pra oferecer, inovando e, principalmente, passando alguma cultura, porque só trocar de música já não é mais nenhum diferencial.
Para saber mais, viste meu site: http://www.energybr.net/
01 - Qual estilo de Trance você mais gosta de tocar, em cada ocasião? Por quais você ja passou?
Bom, atualmente eu toco basicamente progressive e tech trance, mas também gosto de acelerar em alguns momentos do set dependendo do lugar onde estou tocando, aí um uplifting cai muito bem. No passado meus sets eram bem mais pesados, tocava praticamente hard trance, mas como o estilo não se renovou e caiu na fórmula, ele acabou sendo deixado de lado por muitos produtores e até mesmo pela cena, porque já não passava mais a mesma emoção.
02 - Como você vê a evolução da cena Trance no Brasil? Hoje ele está em ascendência por aqui? Que fatores contribuem para isso?
O trance “europeu” vem crescendo muito no Brasil, principalmente nos últimos 3 anos, que foi quando começaram a ter enxurradas de DJs gringos vindo tocar por aqui. E isso foi um fator muito importante também para a cena local, pois começou a crescer mais o interesse pelo público de pesquisar e ver que por aqui também temos ótimos DJs e produtores.
03 - Muitas pessoas dizem que o Psytrance deveria mudar de nome por não agregar os elementos do verdadeiro Trance. Você concorda?
O psy no que se refere a “full on” eu concordo plenamente, porque não tem nada a ver há muito tempo. O que foi muito relacionado ao trance mesmo era o goa, que não se produz tanto como antigamente, mas que ainda tem algumas coisas saindo.
04 - Como as vertentes estão sobrevivendo hoje?
Bom, o trance “europeu” como muitos chamam, pode ser dividido praticamente 4 vertentes: progressive, uplifting, tech e hard.
A meu ver os que mais se destacam atualmente são os 3 primeiros, mas principalmente o progressive e o tech, que são os estilos mais ricos e diversificados em termos de produção.
05 - Você concorda com a afirmação de que o Trance puro se parece com o House, mais do que com qualquer outra vertente?
Nossa, nada ver essas afirmações que dizem por aí!Primeiro que trance “puro” não existe mais se você for levar ao pé da letra. O trance, assim como qualquer estilo musical, passou por muitas evoluções até chegar ao que é hoje, rolaram muitos crossovers de estilos, então não dá pra dizer “ahhh isso é trance puro”, isso não existe. O que temos são estilos que chegam próximos do que era feito lá no começo dos anos 90, como o progressive.
06 - Que tipos de trabalho um Dj de Trance tem que fazer hoje para sobreviver no mercado, (tendo em vista que o próprio Psytrance já se encontra em decadência e seus produtores estão tendo que procurar outras bandas)?
Hoje em dia, em qualquer mercado, o DJ é muito mais do que uma pessoa que só precisa estar lá pra mixar na cabine. O DJ precisa ter conhecimento musical, produzir suas próprias faixas, divulgar e muito bem o seu trabalho, correr atrás, etc. O mercado está cheio de “DJs”, então pra você se destacar, você precisar ter sempre algo há mais pra oferecer, inovando e, principalmente, passando alguma cultura, porque só trocar de música já não é mais nenhum diferencial.
Para saber mais, viste meu site: http://www.energybr.net/
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